Wesley Morais/Notícias do Acre – 03/10/2019
Emissário britânico cumpre extensa agenda no estado, onde acompanha investimentos destinados por meio do programa REM e discute novas possibilidades para ampliar ajuda internacional na preservação da floresta amazônica
O embaixador do Reino Unido no Brasil, Vijay Rangarajan, afirmou nesta quinta-feira, 3, que o Acre é exemplo mundial no que se refere à preservação do meio ambiente. O emissário do governo britânico afirmou ainda que o estado amazônico figura como importante liderança na conservação da biodiversidade e que o modelo de desenvolvimento social e econômico, aliado à sustentabilidade, é muito importante para o progresso da região.
“O Acre tem um papel de liderança mundial sobre proteção florestal e queremos muito apoiar o desenvolvimento sustentável do Acre. Desde o pequeno produtor, grupos indígenas, agroindústrias, entre outros. Precisamos, por parte do Reino Unido, do desenvolvimento sustentável de baixo carbono através do livre comércio e um desafio mundial é a questão da mudança climática”, frisou.
A visita de Rangarajan antecede a realização da 26° Conferência do Clima das Nações Unidas (Cop-26), evento este que será realizado na cidade escocesa de Glasgow, norte do Reino Unido, em novembro de 2020. O embaixador citou que a vinda ao Acre é uma excelente oportunidade para a discussão do assunto que tem alcance global.
“Estamos fortalecendo esta parceria entre Reino Unido e Acre por meio do financiamento de projetos florestais, através do REM, e trabalhando com nossos parceiros, como é o caso do governo do Acre. Nosso principal compromisso é proteger a vida florestal e aliar o crescimento econômico, por meio da geração de emprego”, argumentou.
O Reino Unido comprometeu-se no Acordo de Paris a investir 5,8 bilhões de libras em projetos voltados ao meio ambiente entre 2016 a 2021. Somente no Acre, o país britânico já destinou recursos na ordem de 7 milhões de libras que contemplaram todos os municípios do estado.
Durante sua fala, o governador Gladson Cameli ressaltou que a visita de Vijay é muito significativa para conhecer a realidade do Acre. O gestor foi enfático ao confirmar que sua gestão é totalmente favorável à preservação do meio ambiente e que os órgãos de controle e fiscalização têm sido implacáveis com aqueles que derrubaram e queimaram a floresta de maneira irregular.
Cameli confirmou ao embaixador que a população local é contra este tipo de prática e que seu governo está empenhado em garantir que a legislação seja cumprida. Gladson pontuou que vem executando um modelo de desenvolvimento onde é possível aliar conservação ambiental com o agronegócio sustentável, uma das principais bandeiras de seu governo para alavancar a economia acreana por meio da geração de emprego e renda.
“Não queremos ir contra às políticas ambientais e tudo aquilo que for irregular deve ser punido com o rigor da lei. Quero dizer que a maior parte da população do Acre é contra as queimadas e o nosso principal objetivo é aproveitar as áreas que já foram abertas para que sejam utilizadas para o agronegócio sustentável. Este é um desafio que temos pela frente e que vamos conseguir superá-lo por meio da geração de emprego e renda para o nosso povo”, observou o governador.
Gladson disse ao embaixador que o Acre é uma terra próspera e convidou o Reino Unido para investir no estado. De acordo com o chefe do Executivo, o potencial agrícola da região é imenso e a posição geográfica perante a costa do oceano Pacífico é estratégica. Cameli disse não ter dúvidas que o estado integrará uma nova fronteira do progresso econômico que ele denominou de segundo Canal do Panamá, uma referência à ligação em definitivo, via terrestre, entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
“A ponte do rio Madeira deve ser entregue até o fim do ano e isso será muito importante para a consolidação dessa ligação entre o Pacífico e o Atlântico. Eu tenho certeza que este é o momento certo para investir no Acre e, por isso, eu convido o Reino Unido a investir aqui e nos ajudar na geração de muitos empregos”, argumentou.
A reunião contou ainda com a presença da primeira-dama do Estado, Ana Paula Cameli, do secretário de Estado da Casa Civil, José Ribamar Trindade, do secretário de Estado de Meio Ambiente, Israel Milani, do secretário de Estado de Relações Políticas e Institucionais, Alysson Bestene, da secretária de Estado de Planejamento e Administração, Maria Alice Araújo, da secretária de Comunicação, Silvânia Pinheiro, do diretor-presidente do Instituto de Mudanças Climáticas(IMC), Carlito Cavalcante, do deputado estadual e líder do governo na Assembleia Legislativa, Gehlen Diniz, e do representante do governo do Acre em Brasília, Ricardo França.
Projetos financiados pelo REM são apresentados ao embaixador
O Acre foi o primeiro estado do país a receber recursos do programa global REDD Early Movers (REM), em 2012. Parte destes recursos são bancados pelo governo do Reino Unido. Na oportunidade, uma prestação de contas foi apresentada a Rangarajan e futuros projetos que estão em desenvolvimento para os próximos anos.
Foram apresentados avanços em várias áreas. Na pecuária diversificada sustentável, mais de 4,5 mil famílias foram alcançadas, assim como outros 7,9 mil indígenas beneficiados com recursos do programa REM na ordem de R$ 6,8 milhões. Também foram apresentados relatórios sobre aumento na produção de látex, açaí, murmuru e mel. Assim como a intensificação no reflorestamento em locais degradados.
Coube ao secretário de Estado de Meio Ambiente, Israel Milani, apresentar o empenho da atual gestão no combate à derrubada ilegal da cobertura vegetal. Atualmente, 87% do território estão preservados, confirmando o compromisso ambiental e colocando o Acre entre os estados mais preservados do Brasil.
Milani explicou ao embaixador Rangarajan de que forma foi implantado o Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental (Cigma), assim como o planejamento integrado e as ações adotadas pelo governo estadual no período em que as queimadas se intensificaram na região. O decreto de situação de emergência e a Garantia da Lei e da Ordem Ambiental (GLOA), que ainda estão em vigência, foram apontados pelo gestor como cruciais para ajudar a combater e controlar os focos de calor.
“Muito positiva a visita do embaixador porque estamos mostrando a realidade de como se encontra o Acre. A partir disso, ele terá a oportunidade de conhecer mais as nossas características e vamos poder fazer juntos um plano de ação, chegando com a política de maneira mais efetiva na ponta, junto aos pequenos produtores, nas comunidades extrativistas, povos indígenas e naqueles que realmente precisam de ajuda do governo do estado e do recurso do Reino Unido”, salientou.
Sobre o Programa REDD Para Pioneiros (REM)
Lançado na Conferência Rio+20 em junho de 2012, o REM é uma iniciativa inovadora da Assistência Oficial ao Desenvolvimento da Alemanha (ODA) que premia os pioneiros em proteção florestal e mitigação da mudança do clima. Ele tem como alvo países ou regiões que já tomaram iniciativas para proteger florestas. O programa fornece pagamentos baseados em desempenho para reduções verificadas de emissões do desmatamento, dessa forma, dirigindo o REDD+ de acordo com as decisões acordadas na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
O Programa é implementado pelo KfW Development Bank em parceria com a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), e encomendado pelo Ministério Federal Alemão para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (BMZ). Em 2012, o Acre foi o primeiro estado do Brasil a receber financiamento com base em resultados para reduções de emissão verificadas.
O Reino Unido visa apoiar a erradicação internacional da pobreza, ajudando países emergentes no gerenciamento de riscos; adaptação e resiliência aos impactos da mudança do clima; promoção do desenvolvimento de baixo carbono em escala; e apoio ao manejo sustentável dos recursos naturais para redução do desmatamento. O Brasil é um dos quatro maiores receptores deste financiamento, que é utilizado no manejo de florestas, agricultura, soluções sustentáveis nas cidades e infraestrutura.