Desde o início dos anos 2000, o Acre entrou de vez na era da economia sustentável, com respeito à sua identidade e aos recursos naturais. Quase 20 anos depois, os resultados desse modelo já são visíveis nos indicadores e na vida das comunidades.
Nesta semana, em Balikpapan, cidade na província de Kalimantan Oriental, Indonésia, realiza-se a Reunião Anual do GCF (Força-Tarefa dos Governadores para o Clima e Florestas, tradução de Governor’s Climate and Forests Task Force). O encontro é fruto de uma das cooperações que o Acre faz parte, resultado do seu trabalho no desenvolvimento sustentável.
O governador Tião Viana lidera a comitiva acreana, da qual estão participando a primeira-dama Marlúcia Cândida, a secretária-chefe da Casa Civil Márcia Regina Pereira, a diretora-presidente do Instituto de Mudanças Climáticas do Acre (IMC) Magaly Medeiros, o presidente da Companhia de Desenvolvimento de Serviços Ambientais do Acre (CDSA) Alberto Tavares e o porta-voz do governo Leonildo Rosas.
Com o desafio global de zerar o desmatamento ilegal até 2020, os 35 membros do GCF irão debater e propor trabalhos conjuntos para alcançar a meta. O Acre, um dos estados fundadores do grupo, vai apresentar suas estratégias de sucesso baseada na inclusão social, evolução econômica sustentável e uso correto de suas florestas e áreas abertas.
Isso tem garantido aumento do Produto Interno Bruto (PIB) e queda do desmatamento e da extrema pobreza rural no estado.
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A nova economia global
“Desmatamento se combate com comando e controle, mas também com uma agenda de desenvolvimento econômico. Gerando alternativas produtivas que melhorem a qualidade de vida das pessoas, fortalecendo a economia de baixas emissões de carbono”, afirma Tavares, ao explicar um dos principais pontos a abordar no encontro.
Nesta segunda-feira, 25, iniciam-se as primeiras reuniões, que serão marcadas pela discussão entre os estados membros, organizações não governamentais, fundos e grupos financiadores, todos em busca de consolidar o green business, a chamada economia sustentável e inclusiva.
“O encontro deste ano vai ser muito focado em promover negócios inovadores dentro desse ambiente”, complementa Tavares. Ele explica ainda que o Acre irá apresentar o seu caso de sucesso mais recente, que é o REM/KfW (REDD para pioneiros, em cooperação com o banco alemão KfW).
O Acre foi o primeiro estado-membro do GCF a receber essa nova modalidade de projeto ambiental, com doação por compensação de controle no desmatamento. Foram cerca de R$ 100 milhões aplicados em setores produtivos como piscicultura, produção sustentável, fruticultura, florestas plantadas de seringueira e castanha, além de projetos de cultura indígena.
“O Acre é reconhecido na prática! A Alemanha poderia ter ido para o Vietnã, Indonésia, Peru ou para a Colômbia, como foi em seu segundo contrato três anos depois”, afirma Tavares. “Um dos motivos que serão apresentados para esse sucesso é o arranjo inovador realizado no estado, com justiça social, incremento da produção rural com tecnologia e sem desmatar novas áreas”, pondera.
Desmatamento ilegal zero
Dados divulgados em agosto deste ano, pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), comprovam como esse arranjo é positivo. A redução no desmatamento do Acre, de agosto de 2016 a julho de 2017, foi de 32%. O levantamento faz uma comparação com o período anterior: 2015/2016.
Mas a meta é zerar o desmatamento ilegal, e para isso o desafio é muito grande. “Nós precisamos consolidar todo esse trabalho. Porque custa reduzir o desmatamento, custa manter a floresta em pé. Nós estamos apresentando projetos para que os financiadores invistam em estados que estão diminuindo o desmatamento”, diz Tavares.
E é isso que o Acre está propondo, ainda mais ousadia dos parceiros globais para ações conjuntas e efetivas. O estado tem algumas iniciativas que merecem destaque, segundo Tavares, como a indústrias de castanha, da Cooperacre, de suínos, da Dom Porquito, e a de pescado, da Peixes da Amazônia. Todas com participação direta da comunidade produtora e cooperativas junto a grupos empresariais, dando vazão à produção primária.
É preciso aumentar a escala das atividades já realizadas para zerar de vez a pressão inexplicável sobre novas áreas de floresta em toda a Amazônia. “Nós estamos contribuindo efetivamente com o maior problema da humanidade hoje, que é a crise climática que causa a potencialização de fenômenos extremos do planeta, como furacões, secas, enchentes. Essa é uma agenda econômica, social e de meio ambiente e clima”, conclui Tavares.
Texto: Arison Jardim
Foto: Pedro Devani