O Acre atingiu o estado crítico no clima devido a fenômenos ambientais que agravam ainda mais os problemas decorrentes da seca e das queimadas e que colocam o estado em situação crítica. O deslocamento de uma massa de ar seco do Oceano Atlântico para o Brasil, a ausência de chuvas e a baixa umidade relativa do ar contribuem para o aumento de incêndios florestais e urbanos.
Vera Reis, diretora técnica do Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação dos Serviços Ambientais do Acre (IMC), traça um panorama do contexto climático do estado no trimestre de agosto, setembro e outubro.
Clima
Com relação às condições de clima e tempo, o trimestre vem sendo caracterizado como crítico, devido à temperatura bastante elevada e à baixa umidade relativa do ar. Esse cenário de seca que se estabelece no Brasil central, especialmente na Amazônia oriental, é decorrente de uma massa de ar seco que vem do aquecimento das águas superficiais do Oceano Atlântico.
Esse fenômeno contribui ainda para um déficit hídrico dos rios acreanos. A velocidade de queda e redução do nível das águas é maior porque a linha de base não está completa, ou seja, não tem água suficiente para fazer o equilíbrio do lençol subterrâneo.
“Ainda vivemos os resquícios do El Niño passado”, diz Vera Reis sobre o fenômeno natural de aquecimento das águas do Oceano Pacífico que altera o clima e os regimes de chuva nas regiões tropicais, como o Norte e o Nordeste do país. Com a ausência de chuvas e a velocidade maior de queda nos rios, o abastecimento de água nas cidades pode ficar comprometido, risco maior que em 2016.
Invasão
O maior número de queimadas e desmatamento se concentra em projetos de assentamento, propriedades particulares e áreas não destinadas, ou seja, áreas não regularizadas, que representam 15% do território. Com frequência, essas áreas são invadidas e a cobertura florestal é retirada, o que contribui de forma significativa para o avanço do desmatamento no estado.
Muitas famílias migram de Rondônia para o Acre e ocupam áreas naturais protegidas, como a Floresta Estadual do Antimary, nos municípios de Sena Madureira e Bujari. “Dados investigativos do Batalhão de Policiamento Ambiental da Polícia Militar mostram a invasão dessas áreas por famílias rondonienses e também a apreensão de várias ferramentas de destruição da floresta, como trator e caminhão”, aponta Vera Reis.
Investimento
Diante do cenário climático e ambiental crítico, o desafio do governo do estado é aplicar os recursos financeiros em ações estratégicas de prevenção e combate ao desmatamento, queimada e desperdício de água. “Estamos redirecionando as políticas de governo para levar os recursos onde é necessário, mas também cobrando do pequeno produtor que ele faça sua parte”, relata Vera Reis.
Para intensificar as ações, o governo do Acre trabalha para renovar o Plano Estadual de Prevenção e Combate ao Desmatamento e Queimada, em vigor até 2021. “Esse trabalho é subsidiado por gestores ambientais e instituições de pesquisa que atuam no sentido de renovar nosso plano de prevenção e controle para a implementação de políticas públicas efetivas”, finaliza Vera Reis.
Texto: Bleno Caleb
Foto: Bruno Pacífico