Com uma história recente no Acre, a piscicultura ganhou um novo modelo de gestão e criação a partir de 2011. Com foco mais profissional e qualificado, os criadores acreanos ganharam grande incentivo com a construção do Complexo de Piscicultura Peixes da Amazônia e com a construção de mais de cinco mil tanques, ações viabilizadas pelo governo do Estado.
Resultados dessa evolução já podem ser vistos nos restaurantes e mercados Brasil afora e também no Peru, além de haver aumentado o consumo no estado. A produção de pescado passou de 2 ton, em 2011, para 6 ton já em 2015.
“Nós fizemos um atalho de 20 anos no projeto de piscicultura do Acre através do setor público. Estamos nos esforçando muito ainda. São R$ 25 milhões a mais em melhorias para a produção local, além das tentativas de atrair novos investidores”, afirma o governador Tião Viana. Ele fala ainda no interesse de o estado ter a ração verde, buscando alcançar a marca de 100 toneladas de peixe por um hectare por ano no Acre.
Parte desse incremento nesta cadeia produtiva foi organizada pelo governo por meio do programa global REM (REDD Early Movers – para pioneiros), com o Banco de Desenvolvimento KfW, da Alemanha. Para avaliar todas as etapas da execução deste programa, que ocorreu nesta semana em Rio Branco.
Um dos subprogramas avaliados foi a piscicultura. Kai Wiegler, consultor para aquicultura do KfW, fez um tour pelas propriedades beneficiadas, durante dois dias.
A agenda foi finalizada com uma visita à Peixes da Amazônia, na companhia de Lesile Marin, representante do Departamento de Negócios, Energia e Indústria Estratégica do Reino Unido; e de Kennedy Souza, representante da WWF no Acre. Em seguida, a comitiva, já acompanhada do assessor do programa REM/KfW, Bojan Auhagen, se reuniu com o governador Tião Viana, o secretário de Meio Ambiente Edegard de Deus, e do presidente da CDSA (Companhia de Desenvolvimento de Serviços Ambientais do Acre) Alberto Tavares, na Casa Civil.
A consultoria
Com grande experiência no mercado de peixes mundial, realizando trabalhos em mais de 50 países – incluindo apresentações na Conferência das Partes (COP), órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, sobre a sustentabilidade ambiental na pesca -, o consultor teve olhar atento para o que presenciou no estado.
Em um desses trabalhos, Kai fala sobre a importância de pequenos produtores para a segurança alimentar e fonte de renda. Percorrendo as propriedades, ouvindo as desafios e avanços ocorridos na cadeia produtiva, ele pôde comprovar in loco sua teoria.
Ao conversar com o morador da Reserva Extrativista Chico Mendes, Tião Aquino, o consultor testemunhou a mudança de renda de sua família. “Posso afirmar que, só nesse tanque, estou tendo de renda oito mil reais por ano”, confirma Aquino.
Além da renda e segurança alimentar, a atividade de criação de peixes auxilia para a proposta do Acre de diminuir a emissão de carbono, contribuindo para o controle das mudanças climáticas do mundo.
Quando perguntado como que essa atividade pode influir positivamente, Kai não titubeou: “Essa pergunta é fácil!”. Ele explicou: “Por causa da renda diversificada. Os produtores não precisam depender apenas de um produto, podendo variar suas fontes de renda. Assim, não fica tão dependente das variações de clima, como os padrões de chuvas. Isso reduz a pressão sobre os recursos naturais e ajuda na renda”.
Na Peixes da Amazônia
Ao finalizar suas visitas qualificadas na Peixes da Amazônia, na quarta-feira, 19, Kai afirma ter visto um ponto primordial para o desenvolvimento da cadeia produtiva, que é uma indústria que dê vazão para a produção local. “É necessária uma indústria como essa para que os pequenos e médios tenham um desenvolvimento. Todos esses produtos podem ser vendidos perfeitamente na Europa, obter certificação imediatamente”, afirma.
Caminhando por todos os setores do complexo, desde a filetagem, passando pela fábrica de ração e chegando na produção de alevinos, Kai constatou que a indústria “é um dos melhores modelos que vi, de todos os países que visitei. Super profissional”.
a conversa que teve com a direção da Peixes, ele ainda deu alguns conselhos que podem melhorar a relação da indústria com os pequenos e médios criadores.
“O que geralmente está faltando por todo mundo, quando se desenvolve a aquicultura, são as diferentes coisas que você precisa para produzir, como a comida, como as pequenas coisas, a qualidade da água durante o processo. E isto se encontra aqui, nos investimentos como a Peixes da Amazônia”, complementa.
Tudo isto posto, Kai foi categórico ao afirmar: “Acredito que sim, é bom investir no Acre. Nós temos uma oportunidade aqui com a aquicultura”.
Texto: Arison Jardim
Foto: Alexandre Noronha