Com Florestas Plantadas, governo promove geração de renda e conservação

“Chico Mendes, para nós, foi um espelho que jamais deveria ter sido quebrado. Tenho certeza absoluta que isso que está acontecendo aqui hoje também foi um incentivo de sua luta”, declara o agricultor familiar Isaías Flores, ao apontar o resultado do programa Florestas Plantadas. Em três hectares de seringueiras, plantadas em consórcio com banana, castanha e outros cultivos, o produtor vê seu futuro, com renda e conservação.

Percorrendo o ramal da Iracema, em Assis Brasil, chega-se à casa de Flores, que se vista de cima torna-se um pequeno ponto cinza rodeado pelo verde das inúmeras árvores plantadas. Promovendo a geração de renda e a conservação das áreas naturais, o governo do Estado criou o Florestas Plantadas, que desde 2011 já plantou mais de três milhões árvores produtivas. Em todo o setor agrícola, o governo já investiu mais de R$ 500 milhões.

Contemporâneo de Chico, o líder seringueiro assassinado em 1988 por defender a floresta e os trabalhadores, Flores traz consigo as lembranças das lutas que o Acre viveu naquela época. Ao relembrar cada esforço durante o preparo da terra, que antes era um pasto, e do plantio de cada uma das mudas, o produtor se emociona ao explicar porque os ideais do companheiro estão presentes no que o estado vive hoje.

“Ele foi um companheiro que deixou um legado para todas as pessoas que são de bem e que deveriam assumir aquele papel dele. Pensava em um futuro para toda a sociedade. Não só pra ele, mas pra todos os acreanos e porque não dizer, para toda a Amazônia brasileira”, declarou Flores.

Na visão do produtor, o trabalho com o reflorestamento que tem realizado com os companheiros da comunidade e o governo do Estado é um desses legados que fica para o futuro. “Tenho essa consciência de saber que isso é um futuro, não pra mim que já estou no final da minha caminhada, mas também deixar pros meus filhos e outras coisas. Eu sei que isso aqui é um bem que ninguém jamais vai tirar”, afirma.

O projeto Florestas Plantadas faz parte de um arranjo de ações por parte do governo do Estado para o desenvolvimento sustentável. O Acre é uma referência nacional e internacional devido a iniciativas como essa, que além da conservação ambiental, promove a inclusão social e a geração de renda, respeitando cada particularidade das comunidades que vivem na floresta.

Junto às seringueiras, estão sendo plantadas em consórcio, um modelo de Sistema Agroflorestal (SAF), castanheiras e frutíferas, como banana, acerola, graviola, limão, abacaxi e açaí, que trarão retorno financeiro antes das primeiras seringueiras puderem ser cortadas.

As secretarias de Meio Ambiente (Sema) e Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) executam o programa, que tem apoio do banco alemão KfW e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) por meio do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Acre (PDSA II).

Desde o começo do programa, o governo do Estado já investiu mais de R$ 7 milhões e mais de 1500 famílias são beneficiadas, tendo assim uma opção viável para manter o seu modo tradicional de vida, em harmonia com a natureza.

Um dos mercados que a borracha acreana está alcançando é o de calçados na França. A empresa Vert está há 13 anos produzindo com a borracha colhida em Assis Brasil. Atualmente, os extrativistas da região entregam em média 9 toneladas de borracha nativa para a empresa, porém a demanda ainda é de cerca de 50 toneladas.

Essa grande necessidade da borracha mostra como ainda é viável os investimentos nesta cadeia produtiva. Agora, cerca de 100 famílias estão recebendo o projeto Florestas Plantadas, e poderão produzir sabendo que existe um mercado.

A forma da borracha que a empresa francesa compra é a Folha Defumada Líquida (FDL), apesar de também comprar o CVP (Cernambi Virgem Prensado). Flores tem boa perspectiva de negócios. “A Vert disse que eu produzisse e não me preocupasse com o mercado porque eles garantiriam essa parte”, afirmou. A comercialização da borracha em Assis Brasil é feita em parceria com a Associação de Moradores e Produtores da Reserva Extrativista de Assis Brasil (Amopreab).

Vender o FDL ao invés do látex líquido garante também valor agregado ao produto. Com subsídio pago pelo governo do Estado, o valor do quilo do FDL chega a R$ 12. Além disso, o Acre comercializa outras formas da borracha, a fábrica de preservativos Natex, de Xapuri, e a indústria de Granulado Escuro Brasileiro (GEB), em Sena Madureira, consomem outra parte do que é produzido no estado.

Flores fala da questão ambiental de uma forma bem simples, fruto do conhecimento passado de pai para filho. “Meu avô, Francisco Rodrigues, era uma pessoa que dizia: ‘meu filho, dia 15 de maio começa a chegar o primeiro frio’, me lembro disso muito bem. Vejo que hoje está tudo muito mudado”, explica o agricultor.

“Acho que se todo mundo pensasse um pouco nessa situação, jamais a gente teria uma Amazônia sem uma definição do tempo. Tudo é uma questão climática causada pelas derrubadas, pelas grandes queimadas. Para dar o exemplo, eu fiz esse plantio, até porque eu tinha o sonho de fazer isso”, continua Flores, argumentando que o programa do qual faz parte é um bom meio de ajudar na conservação ambiental.

Entre as seringueiras, Flores plantou diversas outra culturas como a castanheira, mogno, cupuaçu e a banana. As frutas já ajudaram na renda enquanto as outras árvores seguem crescendo. “Acho que nosso plano é de investir na agricultura, principalmente nas florestas plantadas porque vai te dar um retorno depois”, explica.

Para o produtor, essa é uma prova de que é possível gerar renda em pequenos espaços de terra, sem necessidade de grandes latifúndios. “A gente está mostrando que é possível viver em pequenas áreas e viver bem. Está começando a me dar resultado, a banana já me deu muito”, declara.

Agora, sete anos de iniciar essa empreitada, ele começa a ver também o resultado da extração de látex. “Aqui já é o terceiro corte que a gente deu e já estou com, aproximadamente, uns 15 a 20 quilos de borracha. Tem 255 árvores prontas para o corte e ano que vem, se Deus quiser, estarei com umas 400 seringueiras prontas”, disse.

O desejo que começou ainda quando criança, está se concretizando agora para Flores, plantar e trabalhar com o látex. O sorriso ao percorrer sua propriedade demonstra o tamanho de sua felicidade em poder construir um futuro com consciência. “Se eu morrer hoje, vou consciente e tranquilo por ter realizado meu sonho, que é de trabalhar com a seringa e com as florestas plantadas”, afirma Flores.